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São um conjunto de doenças que se caracterizam pelo acúmulo e persistência de substâncias tóxicas em decorrência da ausência ou defeito de uma ou mais enzimas.
É importante em todos os casos realizar o diagnóstico precoce; a presença de sintomas e sinais específicos leva à suspeita clínica por parte de especialistas e o diagnóstico precoce leva a um rápido estabelecimento do tratamento adequado. A intervenção precoce por grupos multidisciplinares evita sequelas de longo prazo nos pacientes.

Idades mais afetadas: Bebês

O que é?

Os distúrbios de síntese de ácidos biliares (DSAB) são doenças genéticas raras que podem se manifestar como colestase, doença neurológica ou deficiência de vitaminas lipossolúveis. Estes distúrbios são responsáveis por 1-2% dos casos de colestase neonatal.[1]

Estes erros congênitos raros da síntese de ácidos biliares são resultantes de herança autossômica recessiva. [3]

Que tipos de deficiências existem?

Existem nove subtipos de DSAB, os quais resultam em uma produção e acúmulo anormais de ácidos biliares e seus metabolitos intermediários.[1]

Os distúrbios da síntese de ácidos biliares são classificados como primários ou secundários: [2] – Os DSAB primários ocorrem por deficiências congênitas nas enzimas necessárias para sintetizar os dois principais ácidos biliares: ácido cólico e ácido quenodesoxicólico. – Os defeitos metabólicos secundários que afetam a síntese primária dos ácidos biliares incluem disfunções peroxissomais, como a síndrome de Zellweger (ZSD) e a síndrome de Smith-Lemli-Opitz causada por uma deficiência de 7-dehidrocolesterol reductase.

Os dois defeitos mais frequentes de distúrbios de síntese de ácidos biliares primários são: [3]

– Deficiência de 3β-hidroxi- Δ5-C27-esteróide desidrogenase (3β-HSD), devido a mutações no gene HSD3B7

– Deficiência de Δ4–3-oxosteróide-5β-redutase (Δ4–3-oxoR), devido a mutações no gene AKR1D1.

A deficiência de 3β-HSD pode se apresentar como colestase neonatal e como doença hepática crônica em pacientes mais velhos.[1]

A deficiência de Δ4-3-oxoR pode se manifestar como colestase neonatal ou como insuficiência hepática semelhante à hemocromatose neonatal; nos casos de diagnóstico tardio, a mortalidade pode chegar a 50% [1]

Como fazer o diagnóstico?

A identificação e o diagnóstico precoce dos distúrbios da síntese de ácidos biliares são vitais para prevenir danos ao fígado, uma vez que esses distúrbios são eminentemente tratáveis. [1]

O diagnóstico pode ser difícil porque muitas doenças se manifestam como colestase neonatal ou doença hepática crônica, e não há características clínicas ou biomarcadores específicos que permitam a identificação específica de DSAB. No entanto, a maioria dos pacientes com DSAB apresentam colestase com: [1,4]

– Concentrações séricas totais de ácidos biliares normais ou baixas

– Concentrações normais de γ-glutamil transpeptidase

– Sem prurido

Essas são características distintivas, uma vez que os pacientes com doença hepática colestática geralmente apresentam níveis elevados de ácidos biliares séricos e γ-glutamil transpeptidase e apresentam prurido grave.[1]

O diagnóstico é obtido conectando certos sinais clínicos e resultados laboratoriais com a história familiar e a histologia hepática e necessita ser confirmado por análise de ácido biliar urinário com espectrometria de massa e teste genético. [2]

Mais informações

Exploring (rare) Cholestasis é um site de acesso gratuito destinado a profissionais de saúde e dedicado a fornecer informações sobre:

– Colestase e icterícia colestática em pacientes pediátricos,

– Distúrbios de síntese de ácidos biliares primários (DSAB): causa rara, mas com risco de vida, de doenças hepáticas.

O conteúdo de Exploring (rare) Cholestasis é derivado de mais de uma centena de publicações científicas e foi revisado por especialistas reconhecidos em gastroenterologia pediátrica e hepatologia.

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Referências

[1] Sundaram SS, Bove KE, Lovell MA, Sokol RJ. Mechanisms of disease: Inborn errors of bile acid synthesis. Nat Clin Pract Gastroenterol Hepatol 2008;5:456-68.

[2] Jahnel J, Zöhrer E, Fischler B, et al. Attempt to determine the prevalence of two inborn errors of primary bile acid synthesis: results of a European survey. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2017; 64:864-8.

[3] Bove KE, Heubi JE, Balistreri WF, Setchell KD. Bile acid synthetic defects and liver disease: a comprehensive review. Pediatr Dev Pathol 2004;7:315-34. [4] Monte MJ, Marin JJG, Antelo A, Vasquez-Tato J. Bile acids: chemistry, physiology, and pathophysiology. World J Gastroenterol 2009;15:804-16.

Idades mais afetadas: qualquer idade

O que é?

A hipercolesterolemia familiar homozigótica (HoHF) é uma doença hereditária rara, caracterizada por um excesso de lipídios LDL circundantes no sangue (até seis vezes mais do que o normal). Dada a sua acumulação nas paredes dos vasos, existem várias implicações a nível cardiovascular que podem ser fatais. Esses pacientes sofrem de doença aterosclerótica desde muito cedo, o que leva à apresentação de infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou morte súbita. [1,2]

Quais são os sintomas?

Tendo em conta os elevados níveis de lipídios circulantes no sangue, estes costumam aparecer como depósitos em diferentes partes do corpo, sendo evidentes, por exemplo, na pele e nos tendões denominados xantomas cutâneos, à volta da pálpebra denominados xantelasmas ou depósitos na córnea denominados arcos corneais. [1,2]

Para ter em conta

Dadas as implicações cardiovasculares descritas, os pacientes se beneficiam de um diagnóstico precoce e oportuno para iniciar mudanças no estilo de vida (ajuste na dieta e atividade física) acompanhadas de um manejo farmacológico que reduza os níveis de lipídios no sangue. Deve-se levar em consideração que o diagnóstico é clínico, baseado nos sinais e sintomas do paciente, bem como na história e antecedentes familiares. [1,2]

Referências

[1] Merchán A, Ruiz AJ, Campo R, Prada CE, Toro JM, Sánchez R, et al. Hipercolesterolemia familiar: artículo de revisón. Rev Colomb Cardiol. 2016;23(4):4–26.[2] Ascaso JF, Mata P, Arbona C, Civiera F, Valdivielso P y Masana L. Hipercolesterolemia familiar homocigota: adaptación a España del documento de posición del grupo de consenso sobre hipercolesterolemia familiar de la Sociedad Europea de Arteriosclerosis. Documento de Consenso de la Sociedad Española de Arteriosclerosis (SEA) y la Fundación Hipercolesterolemia Familiar (FHF). Clin Invest Arterioscl. 2015;27(2):80—96.

Idades mais afetadas: Bebês

O que são?

São doenças metabólicas hereditárias (recessivas ou ligadas ao cromossomo X) derivadas de uma anormalidade, qualitativa ou quantitativa, de uma das seis enzimas que participam da síntese da ureia. Causando uma crise hiperamonêmica com risco de vida [1].

Por que ocorre a hiperamonemia?

O nitrogênio é um resíduo proveniente da ingestão de proteínas e deve ser excretado do corpo como uréia presente na urina. A excreção inadequada de nitrogênio causa um acúmulo de amônia, em níveis tóxicos para o organismo, denominada hiperamonemia, que apresenta risco de vida [1]. Os sobreviventes da descompensação metabólica frequentemente sofrem de sequelas neurológicas graves relacionadas ao acúmulo de amônia no cérebro. O diagnóstico precoce é crucial para o prognóstico do paciente, uma vez que a terapia medicamentosa permite manter os níveis normais de amônia [2].

Quais são os sintomas?

Em defeitos enzimáticos graves, os sintomas aparecem nas primeiras 24 a 48 horas de vida. Os recém-nascidos após a amamentação experimentam sonolência, mudanças na temperatura, diminuição da ingestão seguida de vômitos, letargia e coma. Portanto, pode ser facilmente confundida com sepse, porém, quando não são encontrados sinais de infecção, deve-se suspeitar e descartar um distúrbio metabólico. Aproximadamente 50% dos recém-nascidos com hiperamonemia apresentam convulsões [2].

Para ter em conta 

A forma de apresentação da doença de início neonatal é a mais frequente por apresentar grave deficiência enzimática, correspondendo a 60% dos casos; o déficit mais frequente é o de ornitina transcarbamilase (OTC).

Referências

[1] Carretero, M.C. Fenilbutirato de Sodio. Offarm. Elseiver. Vol 23. Num. 10 pag 132 134.  Nov. 2004.[2] Leandro R Soria, Nicholas Ah Mew, Nicola Brunetti-Pierri, Progress and challenges in development of new therapies for urea cycle disorders, Human Molecular Genetics, Volume 28, Issue R1, October 2019, Pages R42–R48, https://doi.org/10.1093/hmg/ddz140[3] Human Molecular Genetics, Volume 28, Issue R1, October 2019, Pages R42–R48, https://doi.org/10.1093/hmg/ddz140[4] Kibleur Y, Dobbelaere D, Barth M, et al. Resuls from a Nationwide Cohort Temporary Utilization Authorization (ATU) Survey of Patients in France Treated with Pheburane (Sodium Phenylbutyrate) Taste-Masked Granules. Pediatric Drugs 2014; 16(5): 407-415.

Idades mais afetadas: a maioria dos casos ocorre entre os 5 e os 35 anos. 3% podem ocorrer além da quarta década de vida.

O que é?

A doença de Wilson é uma doença hereditária que se caracteriza por uma excreção biliar deficiente de cobre, produzindo seu acúmulo no fígado, cérebro (núcleos basais) e córnea, principalmente, o que dá origem a uma apresentação clínica múltipla.
É causada por mutações no gene ATP7B do cromossomo 13, que codifica um transportador de cobre do tipo B localizado na rede trans-Golgi dos hepatócitos, por meio de herança autossômica recessiva.
A doença de Wilson não é apenas uma doença de crianças ou adultos jovens, ela pode ocorrer em qualquer idade. A prevalência da doença é de 1 em cada 30.000 indivíduos. A maioria dos casos ocorre entre as idades de 5 e 35 anos. 3% podem ocorrer após a quarta década.

Sintomas

A apresentação pode variar muito de paciente para paciente, desde sintomas neurológicos e hepáticos até psiquiátricos, mas uma grande proporção apresenta um sinal clínico denominado sinal de Kayser Fleischer, que, embora não seja patognomônico, ajuda a suspeitar da doença de Wilson.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico requer a soma de vários sinais e sintomas, além de achados paraclínicos, que dariam um score suficiente para descartar ou confirmar a doença; este score é conhecido como Critérios de Leipzig.